Os riscos do uso de suplementos vitamínicos para cães e gatos

Os suplementos estão na moda. A internet disponibiliza milhares de páginas falando sobre diferentes opções, sejam vitaminas, minerais, aminoácidos, proteínas, além de muitos outros compostos. Essa quantidade de informação disponível e a preocupação em ter uma boa saúde leva a gente a querer tomar vários suplementos. Como nos preocupamos também com nossos pets, eles acabam recebendo esses produtos também.

Mas, na tentativa de tornar a vida do pet mais saudável, alguns tutores acabam prejudicando a saúde do animal por não saberem a real indicação nem a dose dos suplementos. Afinal, é necessário suplementar? Por que um suplemento teoricamente saudável pode causar problemas?

O que é um suplemento alimentar

A definição de suplemento é:  um produto tomado por via oral que contenha um ou mais ingredientes destinados a suplementar a dieta, e que não seja considerado alimento. Ou seja, uma maneira de adicionar nutrientes à alimentação sem a necessidade de ingerir mais comida, com o objetivo de melhorar a saúde, perfomace ou evitar/tratar doenças.

A variedade de suplementos disponíveis é enorme. Existem os famosos multivitamínicos com vários nutrientes essenciais, principalmente vitaminas e minerais, outros à base de ervas, enzimas, aminoácidos, lipídeos, e também com substâncias não essenciais. As formas de apresentação podem ser diversas também: tabletes, cápsulas, comprimidos, pasta, pó e líquido. Suplementos para cães ainda contam com algumas opções no formato de petiscos, como biscoitos e bifinhos.  O objetivo de cada produto pode variar muito:  melhorar a pelagem, proteger articulações, retardar envelhecimento, aumentar massa muscular, dar suporte para o crescimento, melhorar o sistema imunológico, prevenir ou tratar doenças. Boa parte dos ingredientes e dos nutrientes utilizados nesses produtos vem da medicina e da nutrição humana, sendo utilizados também em medicina veterinária.        

Quando os suplementos são recomendados

É muito fácil encontrar suplementos à venda. Além das lojas físicas, como pet shops e farmácias, a internet possibilita encontrar praticamente de tudo com apenas alguns cliques. Mas, isso não quer dizer que o tutor deve sair comprando suplemento que ele viu ser supostamente benéfico. Na verdade, na maioria das vezes não é necessário suplementar o pet, e em alguns casos isso pode ser bem perigoso. Veja abaixo algumas situações em que pode ser necessário utilizar esses produtos.

Deficiência de vitaminas ou minerais: boa parte das pessoas e dos pets que tomam multivitamínicos nunca fez um teste para de fato confirmar que há uma deficiência desses nutrientes. Caso o médico veterinário especialista em Nutrição suspeite de algo do tipo, ele pedirá exames de sangue para confirmação, e prescreverá as vitaminas necessárias.

Doenças debilitantes: algumas doenças crônicas ou sem cura podem ter como coadjuvante o uso de substâncias para reduzir os sintomas ou ajudar a diminuir a velocidade da evolução da enfermidade.

Recuperação de cirurgias ou acidentes: animais que passaram por cirurgias ou sofreram acidentes podem precisar de suplementos, principalmente dos energéticos. Nessas situações, o animal perdeu sangue ou teve lesões importantes no tecido, perdendo nutrientes. Muitas vezes, o apetite também ainda não está regularizado, exigindo o uso desses complementos.

Doença renal crônica: problemas renais causam perda de apetite e perda de minerais pela urina. O uso de suplementos visa primeiramente corrigir essa falta de nutrientes. Além disso, para diminuir a progressão da doença, usa-se muito os ácidos graxos ômega-3 EPA e DHA. Essas substâncias são reconhecidas por apresentarem efeitos protetores aos rins.

Problemas de absorção ou digestão: se o pet tem dificuldades digestivas que podem levar a vômitos e diarreias, além de má digestão, pode ser útil o uso de produtos que visam aumentar a oferta de nutrientes. Por consequência dos problemas digestórios, o paciente tem uma baixa absorção dos elementos presentes na dieta, necessitando desse suporte.

Dor articular: existem dois elementos muito estudados e utilizados na medicina veterinária e humana para problemas articulares – a condroitina e a glucosamina. Elas visam dar suporte para reparação da articulação lesionada, e são úteis na prevenção e tratamento de problemas articulares crônicos, como artrose e displasia coxofemoral.

Essas são as principais situações onde é indicado o uso de suplementos. Existem ainda outras doenças e condições clínicas em que o uso também pode ser útil. Podemos citar problemas de pele, oculares, doenças cardíacas, no envelhecimento, para ganho de peso, entre outras. Porém, é sempre necessário a indicação do Médico Veterinário especilaista.

Os riscos do uso inadequado

Muitos suplementos contêm ingredientes ativos que podem causar reações fortes no organismo. Alguns trazem efeitos colaterais inesperados, especialmente quando as pessoas os usam em vez dos medicamentos prescritos pelos veterinários. Combinar suplementos diferentes também é perigoso. Alguns podem aumentar o risco de sangramento ou, se o pet os toma antes ou depois da cirurgia, eles podem afetar a resposta à anestesia. Suplementos dietéticos também podem interagir com certos medicamentos prescritos de maneira que podem causar problemas:

Vitamina K: em excesso pode causar problemas de coagulação, aumentando as chances de trombos e coágulos. Não indicado para casos de animais que tomam anticoagulantes.

- Os suplementos antioxidantes, como as vitaminas C e E, podem reduzir a eficácia de alguns tipos de quimioterapia.

Vitamina A: essa vitamina é extremamente tóxica quando utilizada em doses muito altas, causando danos ao fígado, lesões de pele e alterações ósseas em animais em crescimento.

- Ferro: seu excesso pode causar náuseas e vômitos e pode danificar o fígado e outros órgãos.

Ervas: muitos suplementos utilizam fitoterápicos à base de ervas em sua fórmula. O problema é que essas substâncias muitas vezes não foram estudadas a ponto de serem consideradas seguras nem para uso humano, quanto mais para cães! As chances de efeitos colaterais e intoxicações são muito grandes.

Os perigos dos suplementos de cálcio e outros minerais

Destacamos esse tópico porque infelizmente não é raro nos depararmos com cães, especialmente de grande porte, com sérios problemas nos ossos causados por erros de suplementação. O uso de cálcio, fósforo e vitamina D via suplementos em cães em crescimento (filhotes) pode causar as chamadas osteodistrofias. São deformações ósseas que ocorrem durante o desenvolvimento do filhote, causando dor, dificuldade de locomoção e problemas permanentes ao cão.

E excesso de cálcio será transferido aos ossos, trazendo rigidez em áreas que deveriam ser moles, como articulações e linhas de crescimento dos ossos, as chamadas epífises. Conforme citamos, o fósforo e a vitamina D também podem causar esse desequilíbrio, pois estão interligados. Um excesso de um vai causar a falta de outro por compensação.  O organismo dos cães filhotes de raça grande é mais sensível a essas alterações, não conseguindo regular a absorção e excreção desses nutrientes quando há um desequilíbrio. 

A importância de oferecer uma dieta completa

Dietas caseiras ou à base de alimentos que normalmente nós julgamos saudáveis, ou apreciamos o sabor, podem ser perigosos para os cães e os gatos, por isso o recomendado é sempre oferecer alimentos completos desenvolvidos por empresas de nutrição animal.

Por que a dieta caseira pode causar os mesmos problemas?

Vimos que utilizar suplementos pode causar problemas por excesso ou desequilíbrio de nutrientes. Porém, o que pouca gente sabe é que erros na dieta podem causar os mesmos problemas. Esses erros são geralmente relacionados à dieta caseiras, quando o tutor oferece alimentos ao cão sem a devida orientação de um médico veterinário especialista em Nutrição Animal. Vamos mostrar alguns erros comuns e quais podem ser as consequências abaixo.

Superalimentação: comer mais do que o necessário pode não somente engordar o animal como causar problemas de excesso de nutrientes. Os mais comuns são relacionados a minerais. Isso pode ocorrer tanto com alimentação à base de rações, mas principalmente com aqueles complementos de alimentos caseiros: restos do prato, carnes, vegetais e ossos.

Ossos: oferecer ossos vai causar o problema que explicamos em relação ao excesso de cálcio. Os ossos são riquíssimos nesse mineral e as pessoas tendem a dar esse mimo aos seus cães pensando que pode fazer bem. Sem falar dos riscos de engasgos e perfurações do sistema digestório se tratando de ossos de aves ou peixes.

Fígado: uma prática comum de alguns tutores é oferecer as vísceras de animais. Ocorre que as vísceras são ricas em algumas vitaminas e minerais. O fígado é o caso mais clássico de hipervitaminose. Esse órgão é o grande depósito de vitamina A do corpo, contendo quantidades altíssimas desse nutriente. Cães  e Gatos que ingerem fígado com regularidade vão ter algum problema relacionado a isso.

Má qualidade da dieta: uma alimentação onde os ingredientes são de baixa qualidade vai levar a dificuldades de absorção, desequilibrando a presença dos nutrientes no organismo. Isso pode ocorrem com rações de baixa qualidade ou também com alimentos caseiros.

Portanto sempre procure a orientação de um profissional habilitado para tal, no caso um Médico Veterinário especialista em Nutrição de Cães e Gatos.

 

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